POR UMA NOVA ALFABETIZAÇÃO DO PROFESSOR

Hoje, o professor se parece mais conformado com o tipo de sociedade que tem, com as condições socioeconómicas ao seu dispor. Este pseudo conformismo que silenciosamente o torna num professor tumular concorre para a sua desqualificação social e o questionamento da sua intelectualidade.
A sociedade tem no professor o elemento fundamental para intervir nas políticas sociais e no questionamento da gestão pública para o bem-estar comum de tal sorte que, se construa uma sociedade justa e humanizada.
O professor não pode pensar que é formado simplesmente para dar aulas, para ensinar o que muitas vezes não o faz como tal. Formar-se como professor requer estar a par e passo da dinâmica da vida e de forma activa. Isto implica dizer que deve estar comprometido com uma formação de cidadania. E só é cidadão, aquele que tem em mão a preocupação do bem-estar local, nacional e internacional a favor de todos.
Segundo Teles (2008, p.58) “o cidadão é aquele que é consciente de seus direitos e deveres, avalia suas responsabilidades e necessidades, ferramentas para se formar uma consciência política”. Os direitos e deveres do professor extrapolam a sala de aula, a escolar e evidentemente, devem reflectir-se no seu modo vivente, na maneira como é tido, como é olhado pela superintendência.
O professor comete pecado social quando se matem calado quando devia falar, agir em prol do bem-estar comum. E neste particular, lembro-me de um amigo professor que dizia “a vida do professor, económica e socialmente está do jeito que está não é porque eu estou ou estamos satisfeitos mas, porque é melhor deixar as coisas do jeito que estão ficando calado no seu cantinho, pois, é preferível ser um professor cobarde vivo do que herói morto”.
O descomprometimento espelhado por este amigo professor deita no caixote de lixo o profissionalismo docente, a tarefa social, as razões pelas quais andou ou anda na escola. Aliás, actualmente, está na moda ver jovens, adultos e velhos a se baterem por uma vaga na universidade. Todo mundo quer ser "doutor". Não há nenhum mal neste apetite que aparentemente reflecte a vontade de melhor servir a sociedade, de ser-se mais prestativo.
Mas, isto não vai além de uma capa de desejos na medida em que, o verdadeiro objectivo de muitos reside na caça a um diploma de licenciatura, tudo porque ser estudante universitário ou licenciado dá dinheiro. Ou seja, com este grau académico o salário pode aumentar. Aliás, o Ministério da Educação paga “bem” a quem é técnico superior ou licenciado com alguns anos de serviço e ponto final. O Ministério não cobra mais nada! Será isto o suficiente para cobrar ao professor? Em pleno século XXI há muito licenciados e analfabetos de ensino superior, os caçadores de certificado superior.
A UNESCO em 1951, considerava analfabeto aquele que não saiba ler nem escrever. Hodiernamente, esta acepção já não tem lugar, talvez para os caçadores de diplomas, que procuram apenas notoriedade no local de trabalho. Assim que, depois de alguns anos, e, imposta a dinâmica dos tempos, este organismo das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, em 1965 em Teerã reuniram-se os Ministros da Educação de países aliados a organização da qual a definição de alfabetização adoptada ganhou outro figurino, sendo que, alfabetização passa ser o acto de preparar o homem comprometido social, cívica e economicamente.

Vista as coisas deste jeito, é crível que muitos professores precisam ser alfabetizados para entender e internalizarem a razão ser da profissão. Daí a sua nova alfabetização.
Captando a citação incorporada por Teles (2008, p.59) oriunda do Simpósio Internacional sobre alfabetização em Persépolis, os académicos concluíram que “a alfabetização não é só um processo que leva ao aprendizado das habilidades de leitura, escrita e aritmética, mas sim uma contribuição para a libertação do homem e seu pleno desenvolvimento” (1975).
Há a necessidade do homem, no caso particular o professor, sentir-se responsável dos impactos aos seus órgãos de sentido. Não é possível o professor tornar-se liberto e manter a convergência do seu pleno desenvolvimento se não agir, não criticar, não discutir, não se consciencializar da necessidade permanente de bater-se contra as injustiças sociais, bater-se contra o desrespeito de que também é vítima.
Não é menos certo que, a sociedade em que vivemos é egoísta, avarenta. Há um espírito de enriquecimento rápido, por vezes sem respeitar os co-cidadãos. E a educação não tem se posicionado devidamente a estes atropelos por ser uma educação deficiente. Uma educação deficiente não tem se não provocar o imediatismo nas pessoas. E imediatismo significa viver segundo a lei de menor esforço, onde fazer tudo pode valer (NALINI, 2009, p.234). A sociedade em vivemos não é mais se não o reflexo do que fazemos por ela.

É imperioso que o professor reflicta e aja individual e colectivamente para uma vida social digna e continuamente ganhe uma consciência crítica. Esta postura passa em adoptar uma qualidade vida, quer formal e política.
É frequente pensar-se que ter uma qualidade vida é possuir uma boa casa, um bom emprego, bom salário, viajar quando bem se entender. Esta posse material não representa de todo a qualidade vida, contrapõe apenas a pobreza material. Ademais, há a pobreza política que campeia a vida de muitos. Para tal, é considerado pobre político aquele que se torna objecto de dominação e manipulação, de instrumento a serviço dos outros, bajulador (DEMO, 2010,p.8). E bater-se por uma sociedade melhor, digna em que todos vivam se sem se sentirem excluidos sociais, impõe a adopção de um espírito de participação, autodeterminação e não de silêncio tumular.
Nesta conformidade, Demo atesta que “não somos um povo capaz de autodeterminação e de conquistar seu espaço próprio e criativo, mas massa de manobra nas mãos de uma oligarquia tão restrita quanto tacanha (2010, p.9) ”.
A justiça social pode ser um facto se se buscar uma qualidade de vida formal e sobretudo política. Deste modo, o papel social do professor será profícuo quando começar a participar activamente e fazer-se respeitar pela sua actuação.
Referência Bibliográfica
DEMO, Pedro. Avaliação qualitativa. 10ª ed. Campinas. São Paulo: Autores Associados, 2010.
NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional. 7ªed.rev.atual.ampl.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
TELES, Maria Luiza Silveira. 6ªed. Educação: a revolução necessária. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.

© ALFREDO, Francisco Caloia, 2010
http://www.franciscocaloia2010.blogspot.com/

1 comentário:

  1. Professora Luvemba Carlos16 de outubro de 2010 às 10:20

    Dr. Caloia, eu ando muito passado com o comportamento passivo dos professores angolanos sobretudo do ensino geral. Parece-me que muito deles sentaram-se na carteira só para ganhar um diploma e ponto final. isto não devia ser assim. penso que as escolas deviam ser mais dinamicas em realizarem semanas pedadgógicas, seminários, paletras, congressos justamente para despetar os professores e suas responsabilidades na sociedade.
    Dr. Caloia continua a brindar-nos com seus textos, estes ajudam a despetar na actividade docente.

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