É importante assinalar que a auto-avaliação é
diferente da auto-regulação dado o facto, à partida, perseguirem objectivos
diferentes, conforme se assinala no artigo a seguir a este.
Hadji (2001) pode
auxiliar na compreensão da diferença destes dois elementos da avaliação,
mostrando que o objectivo da auto-avaliação é de emitir apreciação
sobre alguma actividade ou resultados, tendo em linha de conta constatações e
julgamentos que se fazem. Ao passo que, a auto-regulação, embora esteja
centrada na acção individual, é ao professor a quem, normalmente, se atribui a
responsabilidade de proporcionar ou favorecer possibilidades e por intermédio
delas, o aluno venha a ser capaz de gerir ou ter o controlo de suas
actividades.
Hadji (2001 considera que a auto-avaliação é tradicionalmente definida como
“um processo por meio do qual o sujeito é levado a ter um julgamento sobre a qualidade da
execução do seu trabalho e das suas aquisições, o que exige que se tenha, de
forma mais ou menos explicita, critérios de qualidade” (p. 51).
Se a auto-avaliação centra-se em julgar
a qualidade resultante de acções decorrentes de determinado período, a
auto-regulação configura-se de forma directa e total nas actividades que
ocorrem, tornando-lhe em processo inerente ao indivíduo avistando o
asseguramento de seu êxito (Hadji, 2011).
Com base nesta breve destrinça entre
auto-avaliação e auto-regulação, o texto segue adiante centrando-se na
auto-avaliação, também designada por Talbot (2009) de avaliação reflexiva ou
auto-correcção. Considerando o ambiente da avaliação na sala de aula, este
autor, aponta à auto-avaliação procedimento através do qual realizam-se
actividades organizadas pelo professor que visam recapitular aprendizagens de
determinado ciclo de ensino. E, uma vez que os alunos saibam o que fazer, tendo
em referência uma grelha previamente concebida com todas as situações
previstas, estes por si mesmos avaliam-se e procedem com correcções dos
trabalhos desenvolvidos. Deste modo, ainda na senda deste autor, se
percebe que a auto-avaliação procura revigorar a interiorização dos
conhecimentos dos alunos e das regras estabelecidas de sorte a que está prática
se efective no quadro dos seus propósitos.
Talbot (2009), considera à prática da
auto-avaliação uma das maneiras para gerir o potencial intelectual dos alunos e
seus conhecimentos. Nesta linha, Legendre (1993) indica duas razões que podem
estar na base da auto-avaliação: a primeira é “referente a objectivos e
critérios predeterminados” e segunda “a capacidade de julgamento mais objectiva
possível que o sujeito faz de si mesmo” (apud St-Pierre, 2004, p.34 nossa
tradução). Portanto, segundo St- Pierre (2004), a capacidade de se
auto-avaliar, é um processo construtivo de aprimoramento do savoir-faire e
savoir à intégrer .
Ainda na senda de St-Pierre (2004), se
verifica que a auto-avaliação não é mais que um procedimento que em seu bojo
vislumbra passos qualitativos e reflexão crítica. Porém, a autora reconhece que
é difícil falar em reflexão crítica, não apenas quando à questão se coloca em
nível de alunos, mas também para os próprios professores. Esta apreciação
deriva de experiências que a autora foi acumulando como professora e
pesquisadora, através das quais foi percebendo que à reflexão crítica “reque ao
mesmo tempo capacidades intelectuais de alto nível e uma grande maturidade
emocional” (p. 36 nossa tradução), sendo assim, os alunos por si mesmos podem
experimentar dificuldades, sem contudo, subjugar às suas capacidades e
conhecimentos acumulados ou adquiridos em suas experiências.
De modo geral, parece que a ideia que se
pode ter da auto-avaliação, é a de elevá-la à metacognição apurada, pois, à
compreensão deste elemento, expressa por Talbot (2009), sinaliza-a como o fato
de, “tomar consciência das formas de pensar que se colocam em evidência no
curso da actividade intelectual” (p. 97 nossa tradução). Assim, a dimensão da
compreensão da auto-avaliação implicaria a mobilização de conhecimentos
adquiridos focados na condução da acção intelectual.
Para Castillo Arredondo e Diago
(2009a), a auto-avaliação é a prática que permite a apreciação de trabalho que
se desenvolve, referindo-se a trabalhos ou actividades do aluno quanto do
professor. Com efeito, estes autores parecem apresentar uma ideia mais geral da
auto-avaliação.
A ideia de reflexão individual sobre a
própria prática, normalmente, segundo assinalam, no caso dos professores,
pontua à auto-avaliação o balanço do andamento da sua actividade, assim como do
seu resultado final. Para tanto, utilizam-se meios ou instrumentos que
facilitem dentro do que se pretende avaliar. Neste particular, há uma
convergência de que a auto-avaliação se centra nos resultados que representam
ciclos curtos, médios ou longos de um processo.
Rosales (1999) afirma que “o
reconhecimento, no aluno, da capacidade de avaliar corre paralelo ao
reconhecimento de sua capacidade de participar activamente do processo
instrutivo (…). Na medida em que se procura o desenvolvimento da capacidade de
auto-governo, reconhece-se nele, implicitamente, a capacidade de se
auto-avaliar. A auto-avaliação implica, em relação à hetero-avaliação,
considerar que no aluno pode se dar, intrinsecamente, a norma, o critério e a
autoridade que se situa fora dele quando é outra pessoa quem avalia (apud Castillo
Arredondo e Diago, 2009a, p. 154).
Assim, em prática de ensino, requer-se
dos seus protagonistas a participação activa no processo de auto-avaliação para
sua eficácia na medida das responsabilidades dos envolvidos. Outrossim, parece
evidente que, a auto-avaliação gera outros contextos de percepção de quem a
aplica. No caso dos alunos, Castillo Arredondo e Diago (2009a), afirmam que
esta prática pode captar valores semânticos importantes, visto que, há “uma constelação
de atitudes e valores que motivam e optimizam a sua dedicação, esforço e
rendimento escolar,
Estes autores parecem reiterar as ideias
partilhadas por St-Pierre (2004) e Talbot (2009) de que a auto-avaliação no
aluno ao referirem que com esta prática o aluno pode “reconhecer seus avanços,
conquistas e dificuldades; analisar sua atuação individual e grupal no processo
educacional e, desenvolver uma atitude crítica e reflexiva” (p. 156).
A auto-avaliação no caso do professor
permite “dispor de melhores elementos de juízo que lhe permitam facilitar e
reorientar a aprendizagem; avaliar a actuação e conhecer a situação dos alunos
e, avaliar sua própria actuação e adequar os programas, modificando conteúdos,
metodologias, etc.” (Castillo Arredondo e Diago, 2009a, p. 156). Nesta linha de
pensamento, parece fundamental que se considere os aspectos assinalados, porém,
uma das preocupações das escolas é saber servir-se da auto-avaliação, isto é, o
facto desta modalidade de avaliação não fazer parte, explicitamente, da prática
dos alunos, provavelmente, seja necessário que estes aprendam a utilizá-la bem,
tendo em conta, dentre outras razões, aquelas apresentadas anteriormente
(St-Pierre, 2004; Castillo Arredondo e Diago, 2009a). Visto deste modo, estes
autores propõem a prática da auto-avaliação tendo em consideração o número de
turmas e alunos que o professor tem.
Uma das possibilidades na prática da auto-avaliação seria a auto-avaliação dirigida. Por exemplo, em organiza-se os alunos em pequenos grupos no culminar de cada actividade diária, isto quando tratar-se de primeiros momentos de integração desta prática na turma e, a medida em que esta prática de auto-avaliação vai-se tornando coesa, também evolui-se para trabalhos mais complexos, individuais e actividade que demandam um pouco mais de reflexão e que se proponham a focar mais aspectos diversificados, por exemplo inerentes a conteúdos, participação na sala de aula, responsabilidade e responsabilização das tarefas da disciplina e do curso de formação. Esta pode ser uma das estratégias possíveis dependentemente da realidade das turmas e do professor (St-Pierre, 2004, Castillo Arredondo e Diago 2009a).
Uma das possibilidades na prática da auto-avaliação seria a auto-avaliação dirigida. Por exemplo, em organiza-se os alunos em pequenos grupos no culminar de cada actividade diária, isto quando tratar-se de primeiros momentos de integração desta prática na turma e, a medida em que esta prática de auto-avaliação vai-se tornando coesa, também evolui-se para trabalhos mais complexos, individuais e actividade que demandam um pouco mais de reflexão e que se proponham a focar mais aspectos diversificados, por exemplo inerentes a conteúdos, participação na sala de aula, responsabilidade e responsabilização das tarefas da disciplina e do curso de formação. Esta pode ser uma das estratégias possíveis dependentemente da realidade das turmas e do professor (St-Pierre, 2004, Castillo Arredondo e Diago 2009a).
Além desta alternativa revelar-se
em exercício de aplicação de auto-avaliação, também pode tornar-se numa das
formas dos alunos recapitularem a matéria do dia, evidentemente com o
acompanhamento do professor.
Tagliante (2005), à semelhança de
St-Pierre (2004), Castillo Arredondo e Diago (2009a, 2009b), também entende que
muitos ainda têm dificuldades em lidar convenientemente com a prática da
auto-avaliação e fazer dela uma cultura, não obstante a importância que se lhe
atribuida no domínio da prática educativa.
A auto-avaliação é, segundo Tagliante
(2005), uma habilidade que se deve desenvolver, em outros termos, é "um
saber por se apropriar, e um hábito a adquirir, portanto, um saber integrar”
(p. 34).
A preocupação que parece focalizada
nestes autores, é de que as dificuldades que se evidenciam com a auto-avaliação
não estão simplesmente ligadas aos alunos, os professores também convivem com
elas. Logo, parece que a questão está posta a nível da formação de professores
na qual a avaliação e as suas dimensões não são suficientemente
abordadas.
A importância da prática da
auto-avaliação individual ou grupal prende-se com a sua compreensão, entendo-a
como necessidade de ensino da aplicação desta prática. Podem até existir muitas
possibilidades para ensiná-la, porém, importa reportar-se a que Charles Hadji
propõe, captada em uma das suas palestras realizada em Maio de 2011 em São
Paulo. O pesquisador francês fazia referência à quatro situações que podem
ajudar a ensinar a auto-avaliação, notadamente: (1) fazer com que os alunos
realizem um trabalho de análise das tarefas ; (2) sensibilizar os alunos
para a busca de indícios significativos (por meio de listas de verificação ou
de escalas de avaliação descritivas), (3) fazer com que os alunos julguem
produções fictícias e (4) instaurar momentos de coavaliação ou de
avaliação mútua.
Referências bibliográficas
CASTILLO ARREDONDO, Santiago, DIAGO, Jesús.(2009a) Avaliação
educacional e promoção escolar.Trad. Sandra Dolinsky. São Paulo:
Ibepex/Unesp.
__________. (2009b) Práticas de avaliação educacional:
materiais e instrumentos. Trad. Sandra Dolinsky. São Paulo: Ibepex/Unesp.
HADJI, Charles (2011). Ajudar os alunos a fazer a autoregulação de
sua aprendizagem: por quê? Como? (Visando um ensino com orientação
construtivista). Trad. Laura Pereira. Pinhais: Melo.
____. Avaliação desmistificada (2001). Trad. Patrícia
Ramos. Porto Alegre: Artmed.
St-PIERRE, Lise. (2004).
L’habilité de l’autoévaluation: pourquoi et comment la developer? Pedagogie
collegiale, v.18 n.º1, pp.33-38.
TAGLIANTE, Christine. L’évaluation
et le cadre européen commun. Paris: CLÉ international, 2005.
TALBOT, Laurent. (2009). L’évaluation
formative: commment évaluer pour rémedier aux dificultes d’apprentissage.
Paris: Armand Colin.
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