A AUTOREGULAÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

O texto apresenta algumas linhas tendentes à compreensão da auto-regulação evidenciadas no processo de ensino/aprendizagem. Esta função da avaliação é, às vezes, concebida como autonomia, neste caso do aluno. 


A auto-regulação é o processo de regulação feita pelo aluno no processo da aprendizagem, ou seja, denota-se deste a responsabilidade de seus caminhos no processo de aprendizagem.
Para Zimmerman (2000) a auto-regulação ocorre a partir do momento em que se fazem “representações gerais de si mesmo, seus sentimentos e acções que são planeadas e adaptadas de maneira recorrente em função do que se pretende atingir como objectivos pessoais” (apud Laveault, 2007, p. 210, nossa tradução). Nesta senda, Laveault (2007), refere que a auto-regulação não se restringe apenas em assinalar sentimentos e acções. A auto-regulação também tem a ver com o que se acredita em torno de diversas situações que podem originar dúvidas ou receios de acordo o contexto em que nos encontramos. Ainda segundo refere este autor, a dimensão atribuída a auto-regulação é proporcional ao grau de interiorização do que subentende o conjunto das nossas acções. Com efeito, se faz importante considerar que as estratégias da auto-regulação quando colocadas em evidência, na busca de objectivos, activam o sistema de recompensa. Para tanto, é essencial assinalar que, "torna-se mais fácil ajudar um aluno a atingir seus objectivos do que o obrigar atingir os do professor. No primeiro caso, o aluno saberá dar prova da sua autonomia com a ajuda mais ou menos do professor. No segundo caso, na aquisição da sua autonomia é virtualmente impossível" (Laveault, 2007, p. 213, nossa tradução).A dimensão que se apresenta parece relevar à importância da responsabilidade partilhada no processo ensino/aprendizagem em que o aluno se vê envolvido com os objectivos que sustentam o ciclo de formação. A aprendizagem da auto-regulação pode derivar de várias abordagens, entretanto, Laveault (2007) as sintetiza na categoria da “(1) auto-determinação; (2) aquisição de controlo de si mesmo e, (3) desenvolvimento de self” (p. 213, nossa tradução).Hadji (2011) ao subsidiar à reflexão também alinha na direcção de que, a auto-regulação, sendo uma das funções da avaliação formativa, é um dos mecanismos do processo cognitivo caracterizado pela capacidade de estar a nível do individuo podendo controlar suas actividades ou aprendizagens. Com isso, à auto-regulação não depende unicamente a sinalização de uma dimensão, há que considerar condutas ao longo de um processo de desenvolvimento. Segundo lembra este autor, a auto-regulação vista na perspectiva construtivista valoriza as interacções sociais tendo em conta a regulação. Isto implica dizer que a auto-regulação pode ser definida como “a capacidade, […] poder que «se enriquece» proporcionalmente ao controlo que o sujeito assume sobre os seus mecanismos primordiais de controlo cognitivo” (p. 46).Hadji sinaliza que no processo de ensino/aprendizagem, apostar na auto-regulação seria a forma racional se não mesmo a única forma racional que os professores deviam investir em suas actividades. Esta é a postura ou deveria ser a postura do professor que efectivamente pretenda ajudar seus alunos a aprender. É ponto assente que existe um vínculo entre a regulação e auto-regulação e, por esta razão a presença de uma regulação é posicionada como influência externa ao aluno. Logo, “as regulações externas só terão alcance e eficácia se forem traduzidas em auto-regulações” (p. 49).Hadji (2011), procurando responder a uma das questões levantadas por Allal (2003) segundo a qual, “como promover situações didácticas, intervenções do professor e interação entre pares que favoreçam uma auto-regulação geradora de aprendizagens para cada aluno e, de preferência, aprendizagens produtivas e valorizadas socialmente?” (idem), o pesquisador francês sugere três motivos sobre os quais pode pensar-se a auto-regulação: "(1.)  É um processo básico no funcionamento cognitivo e, portanto, nas aprendizagens; (2.) As regulações coordenadas pelo professor só serão realmente eficazes se atingirem (actuarem sobre) os mecanismos de auto-regulação dos alunos;  (3.) A decisão de desenvolver e enriquecer a auto-regulação constitui um investimento didáctico que pode ter como consequência «um ganho imenso» em termos de aprendizagens; (4.)  Não podemos ter certeza absoluta de nada -por esta razão o termo “apostar” é apropriado -, mas a perspectiva de ganhos é totalmente racional" (ibid).
As propostas avançadas por este autor, provavelmente abrem pistas no direccionamento para práticas potencializadoras à auto-regulação. Todavia, Perrenoud (1999) assinala que nem todas as intervenções com intenções reguladoras podem constituir-se em mecanismos impulsionadores à auto-regulação. Existem várias vias sobre as quais se pode influenciar os mecanismos mentais, “jogando com as representações do saber ou da tarefa, com a construção do sentido, com a negociação da situação, com a relação, identidade de auto-imagem, emoção, coragem, gosto pelo jogo, etc” (p. 97). Entretanto, este autor considera muitas das possibilidades tendentes a influenciar os processos mentais fracassarem por inadequação de teorias que as sustentam. Assim, se supõe que a auto-regulação da aprendizagem demande do aluno “um forte motivo, verdadeiros desafios que o sensibilizem profundamente, um desejo de saber e uma decisão de aprender” (idem).
Referência bibliográficas
HADJI, Charles. (2011). Ajudar os alunos a fazer a autoregulação de sua aprendizagem: por quê? Como? (Visando um ensino com orientação construtivista). Trad. Laura Pereira. Pinhais: Melo.
 LAVEAULT, Dany. (2007). De la «régulation» au «réglage»: élaboration d’un modèle d’autoévaluation des apprentissages. In.: ALLAL, Linda e LOPEZ, Lucie M. (orgs). Régulations des apprentissages en situation scolaire et en formation. Bruxelles: De Boeck, pp. 207-234.
PERRENOUD. Philippe. (1999). Avaliação: Da Excelência à Regulação das Aprendizagens – entre duas lógicas. Reimpressão 2008. Trad.: Patrícia Ramos. Porto Alegre: Artmed.

© ALFREDO, Francisco Caloia. 2012

2 comentários:

  1. Gostei do texto; pela objectividade, actualidade e reduzida extensão. Entretanto, apresentarei algumas dúvidas, a seguir aos reparos de formatação do texto.
    1º A nível da formatação textual
    - O início dos parágrafos não é uniforme: apenas abres um parágrafo, o resto não segue a mesma regra em termos de margem.
    - A escrita não segue nenhuma regra ortográfica. Há uma mistura entre o novo e o antigo acordo ortográfico. Escreves ação# acção; adaptadas#adatadas; didáctico#didatico …
    - Cometes uma gralha ortográfica: autorregulação # autoregulação
    2º Algumas dúvidas
    - Esse conceito de auto-regulação parece colocar de parte a educação primária. Um aluno de 3 a 10 ou 11, pode auto-regulara-se? Sim/não, porquê?
    - A educação é contextual. Achas que esse princípio da auto-regulação aplica-se ao contexto angolano, visto exigir a participação activa do aluno?
    - Não te parece muito eurocêntrico esse conceito?
    - Como definirias esse conceito, atendendo a multiculturalidade de Angola e a vulnerabilidade do seu sistema educativo?

    Um grande e saudoso abraço bro.

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  2. Valeu as tuas interessantes colocações.
    A auto-regulação,me parece processual focalizando todos o níveis de ensino com dimensões relativas de acordo a profundidade da sua compreensão.Mas, particularmente, percebo ser aplicável com muito mais dificuldade nos níveis inicias de ensino. Há um aspecto a ter-se muito em conta, é o nível de entendimento (formação)do professor.
    No contexto da educação em Angola é muito difícil,claro, em todos ou quase todos os níveis de ensino dada a realidade que inflama o sistema de educação do país.
    É evidente o conceito apresentado de auto-regulação, encontra dificuldades de encaixe na dimensão de Angola, porém, é a partir deste e outros que converjam para a construção da aprendizagem do aluno, que se faz importante
    ter um macro olhar sobre as práticas pedagógicas para uma educação emancipatória.

    Muito obrigado, grande abraço.

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