CAMINHO E DIMENSÃO DO FAZER EDUCAÇÃO

Dois campos no tema em questão com possibilidades extensivas podem direccionar o fazer educação. Fazer educação como caminho a desbravar nas oportunidades criadas e por criar, e fazer educação sobre na perspectiva da não restrição nem cessão da acção construtiva e humanizante. E no outro pólo o fazer educação relançando múltiplas dimensões da vida social.
Um olhar sobre a dimensão formal e informal denota uma caracterização do texto. Isto é, a escola, a família como protagonistas da criação ou promoção de acções e questões sociais.
A temática relançada nasce da minha participação a uma mesa redonda promovida pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FE-UFRJ) circunscrita no pensamento de John Dewey e do seminário promovido pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) subordinado ao tema “Desenvolvimento e Educação: Qual desenvolvimento e Educação para qual Sociedade?”. É precisamente neste espírito que apresento reflexões e anotações captadas nestes encontros.

Desta feita, compreende-se que o pano de fundo do artigo consiste no estímulo frequente ao pensamento questionável da prática educacional relativamente aos rumos e dimensões que se tem dado na actualidade com responsabilidades institucionais e governamentais diferentes muitas vezes longe da compreensão das necessidades e preocupações hodiernas. De que educação se fala, se faz actualmente? Quem está preocupado com a Educação? Todos os países falam da Educação com os mesmos interesses? Fazer educação é preocupação apenas dos professores? De que se pensa quando a questão é educação? Bem, são questões que podem suscitar debates permanentes e que envolvem maturidade no discernimento coerente nas colocações.

O educador não deve ficar na bancada como espectador da dinâmica da vida social. É importante que se dê conta a todo momento do seu posicionamento no debate e na sua promoção com o intuito da melhoria da vida humana. Estando fora deste dever é como que autenticar a sua cobardia e incompetência ilibando-se da missão social.

É evidente que, há países que deram um bum no que diz respeito a educação e deviam ser tomadas em linha de consideração as suas experiencias. Isto mostra que com houve uma seriedade no investiram nesta área e outras cruciais. É o caso da Coreia do Sul, da Irlanda, do Japão.

Não se pode adiar a educação do povo. Porque adiar a educação do povo é adiar o seu desenvolvimento. É adiar o desenvolvimento do país.

Muitos ainda continuam a pensar que nos dias de hoje a tarefa de desenvolvimento é da Europa e dos Estados Unidos da América. É preciso compreender que a tarefa de desenvolvimento é tarefa da humanidade.

Hoje, as pessoas com menos recursos estão a se consciencializar cada vez mais em não aceitar a subordinação da sua condição de vida. E falar em desenvolvimento sem valorizar, integrar toda a humanidade não é falar de desenvolvimento propriamente.

Se pensarmos que somos submissos ou subordinados aqueles que são potências eles continuarão sempre a considerar-nos subordinados.

O atraso da educação depende da estrutura governamental. Nenhum governo pode impedir que o seu povo se eduque, que as pessoas tenham a oportunidade de uma educação de qualidade. E acreditar nisso mostra o grau de subordinação.

Sem se dar conta, muitos educadores vivem, independentemente do grau académico e experiência profissional, um clima de subordinação mental. É preciso lutar contra a subordinação ideológica, mental, económica, política, social porque isto constitui perigo para o desenvolvimento e participação sadia.

A classe dominante procura com algumas acções confundir que está a colocar os recursos do país para a educação. A educação é um processo de consciencialização para propor e transformar o processo de civilização. Ainda vivemos como escravos sem direito de guiar o nosso próprio destino. As pessoas devem ser cidadãs. E é preciso compreender que a educação não tem sido assumida como trunfo para o desenvolvimento do país. O que se tem procurado fazer é formar técnicos, operários, professores robots.

Se verificarmos minuciosamente o problema da falta de investimento na educação não é motivada por falta de dinheiro. Há um exemplo que me parece insólito em África e não só, sob o ponto de vista de investimento financeiro maciço e em tempo cruzeiro para uma utilidade temporária e considerada por algumas vozes como investimento feita a margem da população, é a construção dos quatro pavilhões multiusos e quatro estádios de futebol com padrão internacional em tempo recorde gastando rios de dinheiro.

Este exemplo demonstra precisamente que se a educação vive necessidades a questão não reside na falta de dinheiro. E salienta-se que isto não é desenvolvimento.

Com Dewey pode-se aprender que a finalidade da educação é o desenvolvimento. A finalidade do desenvolvimento é cada vez mais desenvolvimento.

Angola ainda não assumiu a educação como uma missão porque a elite não quer. A elite é caracterizada pelo usufruto do que a maior está excluída. É preciso colocarmos a educação como ponto estratégico para o desenvolvimento não só para reproduzir quadros mas, assim como ponto de intervenção para o desenvolvimento económico e social para resignificar o país.

A educação é um bem de produção e o conhecimento supõe o entendimento das relações. Neste quadro não se pode descartar o professor e a sua formação. Quando se pensa na formação de professores pensa-se numa formação com custos baixos. O caso da massificação da universidades em Angola e Escolas de Formação de Professores longe da dignidade que lhe é merecida reflecte-se na falta ou esvaziamento da qualidade da própria educação e do ensino.

Infelizmente a profissão desvalorizada socialmente é a do professorado. Mas, é possível valoriza-la socialmente trabalhando a tempo integral, participando da gestão escolar, acompanhando, orientando os alunos e pagar os professores com salários altos. Porém, todos estes desígnios podem ser efectivos partindo da acção do próprio professor de contrário o cenário será sempre desolador.

A educação como instrumento de realização humana não pode vir de cima para baixo. Ou seja, a partir da estrutura governamental. Mas, de baixo para cima respeitando a visão do mundo. As pessoas de baixo conhecem melhor os problemas do país.

Portanto, urge a necessidade de se ter uma consciência de crescimento da educação. E precisamos e temos de alargar as fronteiras que nos são apresentadas porque é possível caso haja interesse e empenhamento.

ALFREDO, Francisco Caloia 2010. Docente da Escola de Formação de Professores Cte Liberdade do Lubango.

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