RELAÇÃO PEDAGÓGICA ENTRE PROFESSOR/ALUNO DO ENSINO SUPERIOR

O presente texto ostenta reflexões assentes em colocações de estudantes universitários, sob o ponto de vista do modo como é estruturado o diálogo destes na relação pedagógica com a instituição, com os cursos (professores) e com o processo de aprendizagem nas respectivas instituições de ensino.
As representações dos estudantes foram obtidas na base de um questionário distribuído a dezasseis estudantes de diferentes Instituições de Ensino Superior, de cursos diferentes, assim como de ano de escolaridade também diferente. Todavia, apenas onze estudantes devolveram os questionários. Os depoimentos dos estudantes consubstanciaram-se nas questões que se seguem: 1ª Como se relaciona com a instituição onde estuda? 2ª O que acha que aprende nas aulas e fora delas? 3ª Qual é a importância que atribui ao conhecimento escolar?
Segue-se a análise das respostas. Assim, no que diz respeito a primeira questão, os questionados transpareceram duas posições, sendo que, na primeira e com maior abrangência, os estudantes afirmam que a relação com as instituições onde estudam é normal, saudável na medida em que os docentes, os responsáveis, regentes dos cursos, ocupam-se das suas actividades assim como os discentes das suas. Outro aspecto ainda referenciado consiste no facto de alguns professores mostrarem constante preocupação quanto a aprendizagem dos alunos e que muitas vezes procuram métodos favoráveis a apreensão de conteúdos. Alguns professores são dados como privilegiadores de aulas de elaboração conjunta, abrindo-se muitas vezes ao debate em sala de aula. Entretanto, outras colocações apontam para uma relação deficitária entre professor e estudante, e até mesmo desmotivadora com a instituição, pois, há uma relação fechada entre a instituição e os estudantes. Estes últimos, dificilmente participam nas decisões que lhes dizem respeito. Admitem existir uma verticalidade em todas as facetas na actuação institucional. Ademais, a debilidade da instituição com os estudantes figura no excesso de burocracia na resolução das preocupações dos alunos. A esse particular junta-se a carência de materiais (bibliográfico e laboratorial) no âmbito da sua formação e estudantes em muitas vezes sentem a falta de domínio científico e pedagógico em alguns docentes.
Quanto a segunda questão, os questionados consideram, por um lado, a aprendizagem na sala de aula de positiva, porquanto, os conhecimentos que dela advêm apresentam uma carga científica conducente a profissionalização dos mesmos. Alguns dos conhecimentos apreendidos na sala de aula facilmente são compreendidos por se reflectirem no dia-a-dia da sociedade. Fora da sala de aula, a aprendizagem é notória por intermédio da mídia (jornal, rádio, TV, internet) e dos amigos, familiares. Por outro lado, há aqueles estudantes que dão maior crédito no autodidactismo, pelo facto de haver um paternalismo no ambiente da sala de aula e uma limitação de conhecimento do docente. Os estudantes universitários são impingidos por alguns professores a decorarem os conhecimentos que recebem e em alguns casos inibidos de apresentarem as suas dúvidas ao docente sob pena de serem retalhado. Ao arcaísmo docente também lhe adicionado a falta gritante de material pedagógico e científico sendo que, muitas vezes o mercado externo oferece maiores possibilidades de aprendizagem através de livrarias e internet e também maior democratização do conhecimento.
No que tange a última questão, os estudantes acham que os conhecimentos escolares são importantes na medida em que os proporcionam uma bagagem teórica e prática preparando-os para o mercado de trabalho e para uma intervenção positiva na vida social. Outra importância arrecadada do conhecimento escolar é a possibilidade de munir os estudantes de recursos técnicos, metodológicos que os permitem estudar e perceber os mais variados fenómenos ocorrentes na dinâmica da vida.

Portanto, seria surpreendente se as onze respostas colhidas dos estudantes das diferentes instituições convergissem nas suas colocações face a relação instituição/estudante, aprendizagem dentro e fora da escola e face a importância do conhecimento escolar.
Independentemente de cada instituição académica adoptar determinado modelo de gestão, os estudantes precisam sentir-se parte integrante da escola não simplesmente participantes do processo ensino e aprendizagem como também em outras actividades académicas que os atinge directa ou indirectamente. Isto implica dizer que, há uma necessidade de se adequar uma postura não apenas verticalizada com os estudantes, mas também horizontal com os departamentos, com os cursos e alunos.
Acredita-se que, a qualidade de ensino se deve em parte da participação activa do estudante. A construção e a valorização dos saberes requerem a participação dos atores (professor/aluno) num espírito colaborativo. E nos tempos que correm, a atitude paternalista que ainda vinca em certos professores face ao conhecimento é caduca, o conhecimento pode vir de fora e ser lapidado pelo professor de sorte que se venha aplicar a uma determinada situação. Nesta ordem de ideias, importa lembrar palavras, do pedagogo Paulo Freire segundo as quais, o ensino é mediado pelas circunstâncias do mundo, ninguém ensina ninguém e também ninguém aprende sozinho.
Ora, actualmente, parece que a escola apresenta menos possibilidades de ensino e de aprendizagem, os meios tecnológicos (internet, TV, jornais) parecem dispor de mais alternativas para a construção de competências e habilidades que permitem intervir na sociedade, dando a escola apenas um valor mais burocrático. Nesta perspectiva, é cada vez mais premente a superação das debilidades do professor e permanentemente rever a sua actuação na sala de aula.
Salienta-se que o conhecimento escolar é sempre importante na medida em que não se feche em si mesmo. Este deve estar na medida dos contextos sobre os quais são abordados de tal maneira que sejam profícuos a todos os campos onde se justificar a intervenção do homem.
Por Francisco Caloia

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